segunda-feira, 30 de novembro de 2009

As dificuldades continuam...

Quem disse que a mulher se libertou do domínio masculino, engana-se. Leia-se os últimos números da violência da SPM, que alcança a estratosférica marca dos 1000% de casos registrados, nos últimos quatros anos.
Essa violência, ao meu ver, ainda é subliminar, e encontra coro no modo como as mulheres são tratadas e deixam-se tratar, adotando a ´agenda masculina`como sua ou sendo mera coadjuvante dela.
Quem, como mãe solteira ou descasada, nunca passou por situações constrangedoras ou foi tratada com desprezo ou preconceito sexista por amigos, vizinhos ou homens que mal conhecem? Quantas mulheres têm coragem de ir sozinha a um bar, sentar num balcão, simplesmente para relaxar ou tomar uma cerveja, sem o receio de receber uma cantada barata ou ser importunada?
Infelizmente, esse incômodo tão sutil, disfarçado, ainda existe, por mais que o discurso da modernidade e do século XXI venham inundar os nossos ouvidos... meros discursos, palavras vãs.
Ainda somos invadidas em nossa intimidade e nos nossos direitos, arcamos com o maior responsabilidade com os filhos e cerceamos, por conta própria, nossa liberdadede de ir e vir. Somos obrigadas a ouvir frases do tipo ´tem mulher que gosta de apanhar`ou ´é melhor trabalhar com homens, são menos complicados`.
Contudo, vejam bem, nossa vida continua servindo para descomplicar a vida deles.
Cadê o projeto da guarda compartilhada, eu nunca mais ouvi falar e muito menos conheço algum casal que tenha adotado esse regime? Afinal, o que nos faz consentir em ainda sermos tão massacradas, ficando presas ao discurso da beleza, ao medo de ficar sozinha, solteironas, grisalhas? De voltar pra casa correndo pro marido não ficar sozinho, de deixar de planejar a nossa vida por causa do casamento, carregando culpas, culpas e mais culpas...
Mas cá entre nós, somos nós que criamos essas amarras?

A violência contra a mulher ainda assusta

Na quarta passada, a SPM divulgou o balanço da Central de Atendimento à Mulher, com dados do Ligue 180. O balanço apontou que, de abril de 2006 a outubro de 2009, foram registrados 791.407 atendimentos. Em quatro anos, o aumento no número de registros foi de (pasmem!) 1.704%.
No mesmo dia, a ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) e o ministro da Saúde, José Gomes Temporão lançaram a campanha institucional Uma vida sem violência é um direito de todas as mulheres, realizada pela SPM em parceria com o Ministério da Saúde.
A ministra também fez um balanço dos quatro anos de funcionamento da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180. Com spot de rádio, vídeo, cartazes, folders e peças para mobiliário urbano (como paradas de ônibus), a campanha nacional busca quebrar as barreiras do medo de falar sobre a violência, incentivando as vítimas a ligarem para a Central, que também passa, a partir de agora, a funcionar por meio da tecnologia VOIP - Transferência Direta de Chamadas –, permitindo sistematizar automaticamente os dados das chamadas recebidas (data, local de origem, hora e duração da chamada).

Confira, a seguir, os altos números da violência contra a mulher em nosso País:


Denúncias : 93% delas são feitas pela própria vítima; 78% das vítimas sofrem crimes de lesão corporal leve e ameaça; 50 % dos agressores são os cônjuges das vítimas; 77% das vítimas possuem entre 00 e 02 filhos; 69% das vítimas sofrem as agressões diariamente; 39% dos agressores não fazem uso de substâncias entorpecentes ou álcool; 34% das vítimas se percebem em risco de morte; e 33% das vítimas apresentam tempo de relação com o agressor superior a 10 anos.

Tipos de violência - Dos 86.844 relatos de violência, os agressores são, na sua maioria, os próprios companheiros. Do total desses relatos, 53.120 foram de violência física; 23.878 de violência psicológica; 6.525 de violência moral; 1.645 de violência sexual; 1.226 de violência patrimonial; 389 de cárcere privado; e 61 de tráfico de mulheres. Na maioria das denúncias/relatos de violência registrados no Ligue 180, as usuárias do serviço declaram sofrer agressões diariamente.

Perfil - A maioria das mulheres que buscam a Central são negras (43,3%), tem entre 20 e 40 anos (56%), estão casadas ou em união estável (52%) e possuem nível médio (25%).

Atendimentos em 2009 - De janeiro a outubro, a Central de Atendimento à Mulher contabilizou 269.258 registros – um aumento de 25% em relação ao mesmo período de 2008 –, quando houve 216.035 atendimentos. Parte significativa do total de atendimentos (47%) deve-se à busca por informações sobre a Lei Maria da Penha que registrou 127.461 atendimentos contra 92.638, de janeiro a outubro de 2008. O crescimento corresponde, de um semestre para o outro, a 37%. Em números absolutos, o estado de São Paulo é o líder do ranking nacional com um terço dos atendimentos (87.457), que é seguido pelo Rio de Janeiro, com 12,57% (33.844). Em terceiro lugar está Minas Gerais com 6,7% (18.216).