segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A cada 2 minutos, 5 mulheres espancadas

Reportagem de Flávia Tavares

Pesquisa feita pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o Sesc projeta uma chocante estatística: a cada dois minutos, cinco mulheres são agredidas violentamente no Brasil. E já foi pior: há 10 anos, eram oito as mulheres espancadas no mesmo intervalo.
Realizada em 25 Estados, a pesquisa Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado ouviu em agosto do ano passado 2.365 mulheres e 1.181 homens com mais de 15 anos. Aborda diversos temas e complementa estudo similar de 2001. Mas a parte que salta aos olhos é, novamente, a da violência doméstica.
"Os dados mostram que a violência contra a mulher não é um problema privado, de casal. É social e exige políticas públicas", diz Gustavo Venturi, professor da USP e supervisor da pesquisa.
Para chegar à estimativa de mais de duas mulheres agredidas por minuto, os pesquisadores partiram da amostra para fazer uma projeção nacional. Concluíram que 7,2 milhões de mulheres com mais de 15 anos já sofreram agressões - 1,3 milhão nos 12 meses que antecederam a pesquisa (veja acima).
A pequena diminuição do número de mulheres agredidas entre 2001 e 2010 pode ser atribuída, em parte, à Lei Maria da Penha. "A lei é uma expressão da crescente consciência do problema da violência contra as mulheres", afirma Venturi.
Entre os pesquisados, 85% conhecem a lei e 80% aprovam a nova legislação. Mesmo entre os 11% que a criticam, a principal ressalva é ao fato de que a lei é insuficiente.
Visão masculina

 O estudo traz também dados inéditos sobre o que os homens pensam sobre a violência contra as mulheres. Enquanto 8% admitem já ter batido em uma mulher, 48% dizem ter um amigo ou conhecido que fizeram o mesmo e 25% têm parentes que agridem as companheiras. "Dá para deduzir que o número de homens que admitem agredir está subestimado. Afinal, metade conhece alguém que bate", avalia Venturi.
Ainda assim, surpreende que 2% dos homens declarem que "tem mulher que só aprende apanhando bastante". Além disso, entre os 8% que assumem praticar a violência, 14% acreditam ter "agido bem" e 15% declaram que bateriam de novo, o que indica um padrão de comportamento, não uma exceção.
Na infância. Respostas sobre agressões sofridas ainda na infância reforçam a ideia de que a violência pode fazer parte de uma cultura familiar. "Pais que levaram surras quando crianças tendem a bater mais em seus filhos", explica Venturi. No total, 78% das mulheres e 57% dos homens que apanharam na infância acreditam que dar tapas nos filhos de vez em quando é necessário. Entre as mulheres que não apanharam, 53% acham razoável dar tapas de vez em quando.
Fonte: Estadão - 21/02/2011

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Mulher da periferia é mais feliz com o corpo, diz estudo

AE - Agência Estado

A procura do corpo perfeito é democrática, um desejo acalentado por qualquer mulher, rica ou pobre. O que muda é o conceito de beleza. Entre as mais ricas, qualquer sacrifício vale a pena para chegar perto da magreza das modelos. Entre as mais pobres, bonito mesmo é o corpo farto e curvilíneo das dançarinas de pagode. A grande diferença entre os dois grupos é o sofrimento diante do excesso de peso. As mais ricas tentam se esconder sob roupas largas. As mais pobres exibem a gordura sem pudor em microshorts e tops justíssimos. 
A diferença no comportamento dessas mulheres chamou a atenção de Joana de Vilhena Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio e pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Para entender os motivos dos dois grupos, Joana percorreu áreas chiques da zona sul carioca e subiu três favelas, entre elas a Rocinha, que possui quatro academias de ginástica. O resultado é o livro Com que corpo eu vou? - Sociabilidade e usos do corpo nas mulheres nas camadas altas e populares, lançado pela Pallas.
Depois de ouvir o relato de mais de 200 mulheres, Joana não tem dúvidas. As moças das favelas se preocupam tanto quanto as "patricinhas" endinheiradas em terem um corpo bonito. Fazem ginástica, entram na fila de hospital público para fazer lipoaspiração, tomam chá para emagrecer, mas o objetivo é bem diferente. Na elite, a motivação é o espelho. "Para essas mulheres, o que importa é a relação com elas mesmas. Dizem que querem ser magras para se sentir bem", explica. Na favela, o interesse é conquistar os homens. "Elas querem ser chamadas de gostosas, querem exercer sua sexualidade."
A pesquisadora acredita que as mulheres das camadas populares são muito mais felizes com seus corpos, mesmo quando estão gordas. Uma mulher gorda na classe média é motivo de escárnio. Na favela, ela não precisa se livrar dos recheios para ser admirada." Além do mais, as mais pobres têm outras preocupações. "Elas gastam mais energia em garantir direitos básicos de sobrevivência, coisas que para a mulher de classe média já estão resolvidas. Pelo menos nessa relação com o corpo, as moradoras de favelas são bem mais felizes."







quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Branca de Neve e os sete bonitões

Era uma vez uma princesa muito feliz chamada Branca de Neve. Ela estava feliz porque sonhava em ganhar um beijo de um príncipe, pois sabia que havia uma balada e lá tinham vários príncipes e um deles era o mais bonito. Era este que ela queria, mas para encontrá-lo ela teria que procurar um bocado! Ela parou de trabalhar e foi numa loja comprar uma roupa para ela usar na balada. Depois tinha que ir ao cabeleireiro arrumar seu cabelo. A última coisa era mandar um e-mail para o príncipe saber que ela vinha. Quando ela chegou na hora, bebeu tanta cerveja que desmaiou. Logo apareceu o príncipe todo empolgado com sua visita que tropeçou em Branca de Neve sem querer e aí ele viu que era ela e deu um baita beijo nela, que logo abriu os olhos e viu que era ele. Ela foi morar com ele em sua mansão muito bonita e foram felizes para sempre.

Redação escrita pela minha filha Liz, de oito anos contando a história de uma Branca de Neve que vai à luta!!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O goleiro Bruno e a gravidez de Eliza: outro lado da história

MARGARETH ARILHA Pesquisadora do Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Unicamp e membro da Comissão de Cidadania e Reprodução

Eliza Samudio e o goleiro Bruno Fernandes engravidaram. Sim, porque na verdade, Eliza não realizou uma fertilização invitro,com ajuda de um banco de esperma. O que aconteceu foram relações sexuais desprotegidas entre Eliza e Bruno. Ao menos uma, que terminou gerando uma gravidez. Talvez desejada por Eliza e inoportuna para Bruno. Pouco depois de saber da gestação, em 13 de outubro, conforme registro policial, Eliza procurou uma delegacia da mulher, no Rio de Janeiro, para relatar que teria sido ameaçada por Bruno e forçada a ingerir Cytotec. A Polícia diz que, na ocasião, o goleiro foi indiciado. Exame de corpo delito feito pelo IML revelou indicios de uso de medicamento abortivo na urina . Contraprova feita pelo Instituto de Criminalistica Carlos Eboli, que ficou pronta a toque de caixa, originou laudo que deu positivo éara 'plantas abortivas". O instituto reconheceu que a técnica utilizada no exame não teria sido suficiente para indicar se outra substância ou medicamento abortivo poderia estar presente na urina coletada para exame. Pesquisas mostram aumento da violência durante a gestação. A Comissão de Cidadania e produção apoiou estudos que analisas julgados pelos tribunais de justiça de todo os Estados, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF), entre 2001 e 2006. Constataram que 31% das ações judiciais que tratam de aborto no Brasil referem-se a interrupções de gravidez causadas por violência contra gestantes. As razões variavam da indignação de um ex-namorado, por exemplo, por não conseguir reatar o relacionamento, até o cálculo frio de quem mata a ex-mulher grávida por estar em outro relacionamento. Do total de processos vinculando aborto à violência, 67% eram da Região Sudeste, 20% do Sul, 7% do Centro Oeste, 4% do Nordeste e 2% do Norte, revelando que o acesso ao Judiciário se dá com maior incidência nos estados mais desenvolvidos . O caso de Bruno e Eliza aponta para outros aspectos, tais como a existência e mau uso do misoprostol no Brasil, embora não tenha ficado claro se a jovem fez realmente uso do medicamento. No depoimento ao médico-legista, também segundo a polícia, ela afirmara ter ingerido cerca de dez comprimidos, alguns azuis e outros cor-de-rosa. De acordo com reportagem publicada em jornal nacional, a contraprova do laudo indicou a presença da substância piperidina. Os dados indicam que Eliza poderia ter ingerido algum tipo de chá abortivo. O fato é que não existem chás comprovadamente abortivos e, por outro lado, o misoprostol, quando devidamente utilizado, é altamente eficaz. Essas informações são de conhecimento geral da comunidade científica, apoiadas pela Organização Mundial de Saúde e reconhecidas pelo Ministério da Saúde, que incluiu o medicamento em sua lista básica. Estamos longe, contudo, de fornecer às mulheres informações corretas sobre o uso desse medicamento como já ocorre em outros países. Há regulamentações do Ministério da Saúde, produzidas no âmbito da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que permitem apenas o uso obstétrico e hospitalar do medicamento. Isso empurra as mulheres para uma situação de consumo em contextos de vulnerabilidade, já que a regulamentação precisa ser revisada em nosso país. Enquanto isso, tentativas de abortamento poderão ser mal realizadas e terminarão gerando ônus enorme para os cofres públicos, ou seguirem como gestações indesejadas, podendo conduzir a relações violentas . Já há em nosso país evidências suficientes para mostrar que as mulheres precisam do aborto legalizado e, assim como dispõe nossa Constituição, ter acesso a todo progresso cientifico realizado. O acesso ao misoprostol é um deles. A legislação atual, que apenas contempla o aborto em casos de risco de vida da mãe ou quando a gravidez é resultado de estupro, já se mostrou mais do que caduca, não havendo mais sentido a sua permanência no Código Penal, datado de 1940, e totalmente inútil como mecanismo de barreira para a ação ética, moral e cotidiana das mulheres que abortam com ou sem lei, pagando muitas vezes com a morte por suas decisões sexuais reprodutivas.


Fonte: Correio Braziliense - Edição do dia 2/8/2010

domingo, 12 de setembro de 2010

Livro aborda o uso seguro do Cytotec

Na última quinta-feira, 9/9, tive a oportunidade de prestigiar o lançamento do livro "Aborto Medicamentoso no Brasil", da coleção Democracia, Estado Laico e Direitos Humanos, organizado pela Comissão de Cidadania e Reprodução (CCR). Essa ONG reúne profissionais da área de ciências sociais, médicas, humanas e jurídicas, com vistas à produção de conhecimentos para a atuação de movimentos sociais e à formulação de políticas públicas.

Na ocasião, pude conversar com a pesquisadora do Núcleo de Estudos da População da Unicamp e integrante da CCR, Margareth Arilha, sobre a política de redução de danos causados pelo uso do misoprostol (medicamento mais conhecido como Cytotec). Embora ainda engatinhe no Brasil, considero essa discussão muito bem-vinda, pois são incontáveis os riscos causados à saúde das mulheres que utilizaram essa medicação, sem o devido conhecimento. Vale ressaltar que, no desespero de uma gravidez indesejada, muitas se submetem a comprar produtos falsificados na Internet ou em bancas de camelôs desonestos.

Segundo Magareth Arilha, a prática de redução de danos já inspirou ações similares em países, como Peru, Argentina e Uruguai. Contudo, o Brasil avançou pouco nessa direção. ´Infelizmente, existe uma tendência conservadora crescente em todas as áreas no Brasil que impede aprofundar esse debate. E muitas vezes, são as próprias as instituições públicas que cedem a essas pressões", explica.

Não podemos esquecer que o direito às informações de saúde é assegurado por uma portaria da Anvisa. E as mulheres têm todo o direito de saber mais sobre esse assunto.

Fica aí o recado.

Quem quiser solicitar um exemplar do livro, basta entrar em contato com a CCR no e-mail: ccr@cebrap.org.br

segunda-feira, 8 de março de 2010

(Ainda) Vale a pena ser feminista

Gostaria de compartilhar o site da rede Encore Feministe, uma rede internacional organizada pela historiadora Florence Montreynaud, que reúne os assinantes de um manifesto lançado em 8 de março de 2001, com os 20 motivos pelos quais ainda vale a pena ser feminista, listados de forma coletiva, conforme a visão de cada pessoa.
O endereço para quem tiver interesse é o http://encorefeministes.free.fr/index.php3
Continuação da postagem abaixo:

14 - Porque resistimos ao sistema machista, que exalta a virilidade e despreza as diferenças entre pessoas;

15 - Porque em alguns países a vontade política e o trabalho das mulheres já conseguiram mudar mentalidades;

16 - Porque somos solidários com as mulheres maltratadas, violentadas, estupradas, humilhadas, violadas;

17 - Por que "o feminismo nunca matou ninguém e o machismo mata todos os dias" (Benoîte Groult);

18 - Porque pedimos que todos os crimes de origem sexista sejam reconhecidos e punidos;

19 - Porque aspiramos o ideal republicadno de liberdade, igualdade e fraternidade;

20 - Porque "a utopia de hoje é a realidade de amanhã" (Victor Hugo)

20 motivos para ainda ser feminista

No Dia Internacional da Mulher elenco vinte motivos pelos quais ainda vale a pena ser feminista:

1. Porque nos queremos um mundo de paz e de justiça, onde a dignidade humana seja respeitada;

2. Porque pedimos que homens e mulheres sejam iguais em dignidade, iguais em direitos e que estes direitos sejam aplicados;

3. Porque dois terços dos analfabetos no mundo são mulheres;

4. Porque 99% das terras cultivadas no mundo pertencem a homens, apesar de as mulheres produzirem 70% das culturas alimentares. Porque as mulheres são 70% das mais pobres no mundo;

5. Porque 84% das pessoas que pertencem ao parlamento no mundo são homens, apesar das mulheres constituírem metade do eleitorado;

6. Porque em nenhum país as mulheres possuem realmente direitos iguais aos homens. Porque no Afeganistão, as mulheres sofrem uma barbárie e são privadas de todos os direitos;

7. Porque em França, com o mesmo trabalho os homens ganham cerca de 15% mais do que as mulheres e em média, em qualquer profissão os homens ganham 25% a mais;

8. Porque os homens só assumem cerca de 20% das tarefas domésticas, bem como o cuidado com os filhos, aos doentes e aos idosos da família;

9. Porque em cada 10 lares, não existem ocorrências de violência graves onde as vitimas são em 95% dos casos mulheres e crianças;

10. Porque a sexualidade entre adultos deveria originar prazer recíproco e não devia ser utilizado para palavras e ações para magoar ou sujar;

11. Porque toda a mulher já sofreu insultos na rua ou no carro;

12. Porque a publicidade representa de forma degradante as mulheres, bem como as relações entre homens e mulheres;

13. Porque no mundo, vai aumentar para 100 milhoes o número de mulheres submetidas a mutilação genital;

domingo, 13 de dezembro de 2009

Mais um crime chocante, de caráter passional, é registrado em Fortaleza, estado que concentra um dos maiores índices de violência contra a mulher. A jornalista Kérsia Porto, 29 (foto), foi assassinada com seis tiros pelo seu marido, o sargento Francisco Antonio de Lima, 33, que depois cometeu o suicídio. A suspeita é que tenha havido um homicídio seguido de suicídio, motivado por ciúmes. Esse ano, o Ceará registrou 124 casos de mulheres assassinadas. Isso sem contar as agressões, que ocorrem todos os dias.
As estatísticas mostram que a violência só tem aumentado no Estado, sendo que 80% dos casos estão relacionados ao consumo de álcool e drogas - percentual bem maior do que o nacional (57%), segundo dados da Delegacia de Defesa da Mulher. Em todos os casos, há uma relação de poder do homem sobre o corpo da mulher, como se este fosse uma propriedade.

Mas, se a violência contra a mulher só aumenta, é preciso mais rigor com aplicação da Lei Maria da Penha e mais empenho da sociedade para que esta não seja abrandada, como desejam alguns dos nosso parlamentares.

Falta ainda mais seriedade com esse assunto tão sério. Torna-se necessário que as mulheres conheçam mais a Lei Maria da Penha, pois só passsam a buscar seus direitos quando sofrem algum tipo de agressão.

Não podemos dizer que uma relação a dois não tenha seus momentos de maior ou menor possessividade, de ambas as partes, mas convém entender que existe um limite entre o "saudável" e o "doentio", principalmente quando mistura-se ao consumo de álcool e drogas. É preciso que as mulheres, em especial, saibam compreender a hora de buscar ajuda.

Isso significa, principalmente, o direito de ter controle do próprio corpo e de assumir a direção de suas vidas, de uma forma compartilhada com seus companheiros, mas sem a neurose de viver uma simbiose.
Ninguém tem direito a impor seus desejos ou expectativas sobre o outro, seja homem ou seja mulher.