segunda-feira, 12 de maio de 2008

Falta atendimento para mulher vítima de violência no ABCD

Violência contra mulher. O tema, bastante conhecido, ainda é tratado de forma desigual no ABCD. De um lado, centros de referência como a Casa Beth Lobo, em Diadema, e a Casa Vem Maria, criada e mantida pela Prefeitura de Santo André; de outro, a cidade de São Bernardo, que não possui atendimento especializado e sofre com a alta demanda de mulheres agredidas.
Criada em 1998, pelo desejo do Movimento de Mulheres, o projeto Casa Vem Maria atendeu 1.200 pacientes em 2007 – dessas, 263 mulheres passaram pelos serviços pela primeira vez.
De acordo com a coordenadora do projeto, Léa Gomes da Cruz Soares, a maioria das mulheres que são encaminhadas à casa passaram antes pelo atendimento hospitalar por conta de lesões físicas. Só depois de muito relutar em admitir que sofriam de violência, procuraram ajuda. "Nosso tratamento é contínuo. Tentamos romper o laço de agressão, que muitas vezes significa romper as relações com o parceiro agressor."
Em tratamento há um ano e meio, Carmem (nome fictício), procurou o Vem Maria após 14 anos casada com um homem violento. A paciente conta que durante todo o casamento foi à única provedora financeira da casa e que teve de desistir da maternidade por causa do marido. "A maior violência foi a moral e a psicológica. As agressões eram diárias e só cessou a partir do momento em que cheguei ao Vem Maria. Tinha vergonha e medo. Tinha receio de falar o que acontecia comigo, iria desmoronar um castelo que eu construí", conta Carmem, que há um ano se separou do marido, voltou a fazer faculdade e realizou o sonho de ser motociclista.
De acordo com a promotora de Justiça Criminal de São Bernardo, Eliana Vendramini, a cidade conta apenas com as duas casas-abrigo que atendem as setes cidades da Região, e não possuem atendimento especializado. "A questão de São Bernardo é emergencial porque a demanda é muito grande e não podemos tratar de um assunto tão sério apenas no âmbito judicial. No caso de um agressor alcoólatra, não podemos puni-lo sem tratá-lo. Não faz sentido", afirma Eliana.
O serviço prestado pelo Vem Maria é público e gratuito, com a participação de psicólogos, advogados e terapeutas. Funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, na rua Cesário Mota, 51, Centro. O telefone é o 4992-2936. (Carol Scorce)
Fonte: ABCD Maior www.abcdmaior.com.br/

Dom Juan e os homens

O que dizer da relação de Don Juan, como mito da sedução, com os homens? Há um tipo muito particular de Don Juan que só seduz mulheres comprometidas com homens. Ou seja, mulheres que, mesmo assumindo o papel feminino em relação amorosa com outras mulheres, não interessam.
Tal qual o Don Juan sedutor de mulheres, o tipo que procura mulheres vinculadas a outros homens o faz insistentemente e não está interessado no feminino. O objeto de desejo de conquista, neste caso, é o homem, não a mulher.
Esse tipo de Don Juan passa a vida sabotando um desejo homossexual inconscientemente reprimido. Tal repressão se transforma em agressividade na relação com as mulheres. No papel de "macho", o tom sádico aparece em gestos violentos, em que o beijo vira mordida, e os toques carinhosos marcas de garras. A volubilidade, entendida como virilidade em certas culturas, impede o aprofundamento da relação. E daí o estigma de sedutor de Don Juan.
A inquestionável masculinidade, no entanto, mascara a suscetibilidade homofóbica que sequer permite a aproximação, ainda que por amizade, de homens homossexuais. Don Juan teme a contaminação do desejo explicitado de um homem por outro homem, que pode ser ele mesmo. A eterna busca do homem, por meio da relação com mulheres, remete à figura paterna.
O vínculo do bebê com a mãe se constrói por necessidade de sobrevivência (o seio que dá leite), que depois torna-se afetivo. Já o vínculo com o pai é intermediado pela mãe, e por outro tipo de necessidade. Pode-se dizer, necessidade de ser no mundo, na cultura, uma vez que o pai ou sua representação (figura paterna) interdita a fantasia do menino de que a mãe é toda sua, numa relação simbiótica em que nada falta.
O pai ensina que a mãe é sua esposa, e o menino é filho de ambos. Se este pai, mesmo existente e presente, for inacessível ao investimento afetivo do filho, a busca do vínculo, o desejo de conquista do masculino, pode perdurar por toda a vida. Porém, se a figura paterna for receptiva ao investimento afetivo da criança, o vínculo se dará positivamente, e esta fase da evolução emocional do menino estará completada.
A figura paterna pode ser um parente, o avô, um tio, o namorado da mãe, ou ainda (objetos) outras pessoas relacionadas às atividades da criança fora do círculo da relação mãe-filho, que vão aparecendo na socialização na escola, no lazer, no aprendizado da religião, nos meios de cultura, enfim.

Viviane Mottin é jornalista e psicanalista