domingo, 29 de novembro de 2009

Estréia da TV Mulher


Com a estréia do primeiro programa feminino da TV brasileira em 1980 (bem diferente desses arremedos de receitas e estética que somos obrigados a engolir nas tardes de hoje) relembramos que naquela época os nossos problemas ainda eram os mesmos: discriminaçao no trabalho, legalização do aborto, necessidade de creches e divisão do trabalho doméstico. No programa de estréia, essa lista foi lida de maneira muito incisiva pela apresentadora Marília Gabriela (foto).
O programa, dirigido por Nilton Travesso, era levado ao ar pela manhã, de segunda a sexta-feira, e teve seis anos de duração. Contava ainda entre os seus quadros de apresentadores nomes como Marta Suplicy, Nei Gonçalves Dias (in memorian), Leiloca, Ala Szerman, Hildegard Angel, Clodovil, entre outros.

Em pleno regime militar, em um Brasil dominado pelo conservadorismo, a sexóloga Martha Suplicy sofreu muitos protestos por falar, em pleno dia, sobre orgasmo feminino e por repetir a palavra vagina. Era época do "politicamente incorreto", e claro, o nosso representante maior dessa linha, o estilista Clodovil Hernandez, - falecido este ano - resolveu abandonar o programa em pleno ar, protestando contra a apresentadora Marília Gabriela. Viria a substituí-lo como "costureiro" do programa outro estilista, Nei Galvão.

Lembro-me bem do programa e da revolução que causou, principalmente no que se refere a direitos e sexualidade feminina. Engraçado é que embora temas como estética e moda fossem levados diariamente ao ar pela consultora Ala Szerman, estes eram tratados de uma maneira mais espontânea, sem a pressão que a ditadura da beleza nos impõe hoje. Ser mulher significava muito mais do que passar longas sessões no cabeleireiro fazendo chapinha.
Mas, afinal, o que será que está acontecendo com as mulheres de hoje?