A Folha de sábado, 17/5, em reportagem assinada por Claudia Rolli, divulga um estudo do Ibmec, cujo resultado todas nós já sabemos: mulheres com jornada semanal de 40 horas trabalham quase três vezes mais em serviços domésticos que os homens que cumprem a mesma jornada de trabalho. O levantamento foi feito a partir de dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), de 2006, do IBGE e levou em conta informações de 206,5 mil pessoas com renda familiar média de R$ 1.634.
A idade média dos chefes de família e seus parceiros é de 46 e 41 anos, respectivamente. Entre os homens, 85,06% têm jornada de 40 horas ou mais por semana. Na média, eles dedicam 5 horas semanais ao serviço doméstico. O percentual de mulheres que cumprem horário de 40 horas ou mais no tabalho é menor: 56.29%. Entretanto, elas dispensam 18 horas semanais para as tarefas domésticas.
´Comparando mulheres e homens, casados ou não, a diferença persiste. A mulher trabalha em casa, no mínimo, o dobro do que o homem. Dependendo da jornada no mercado de trabalho, essa diferença chega a três ou até quatro vezes`, diz Regina Madalozzo, pesquisadora do Ibmec e um das autoras do estudo.
No Sul do País, segundo o estudo, os homens dedicam mais tempo ao serviço doméstico do que nas demais regiões. ´Ele trabalha em casa uma hora a mais do que um homem da região Sudeste. Esse tempo chega a quase duas horas se comparado ao dispensado por um homem do Centro-Oeste ao trabalho doméstico.` Nesse caso, pesa a questão cultural;. ´A região tem peculiaridades em relação à colonização e costumes. No Sul. os homens têm o hábito de cozinhar mais`.
A redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, reivindicada pelas centrais sindicais não deve ter impacto nas desiguldaes, avalia a pesquisadora. ´Com o tempo, a tendência é que os homens façam mais horas extras para incrementar a renda e diminuam ainda mais o pouco tempo que dedicam ao trabalho doméstico.
Ou seja, esse tempo destinado ao trabalho doméstico bem que poderia ser melhor dividido entre homens e mulheres, mas, infelizmente, no Brasil essa realidade ainda é levada pouquíssimo à sério. O homem ainda é educado para ser o provedor e descansar quando chega em casa. Enquanto milhões mulheres chegam do trabalho e ainda vão cumprir o famoso ´terceiro expediente`em casa, seja preparando a janta, lavando roupa ou cuidando dos filhos. E mais, muitas mulheres não conseguem ´folga`da função nem nos finais de semana.
O resultado disso tudo não é nada animador: stress, irritação, desânimo, doenças cardíacas... em parte, fruto da falta de mobilização, já que grande parte de nós, mulheres, ainda não acordamos de verdade para essa realidade, fruto de uma cultura machista que continua a nos aprisionar e que tende a se perpetuar, soando muitas vezes como a ´lei natural das coisas`.
Nada mais oportuno do que colocar esse assunto na pauta, diante do projeto de redução da jornada do trabalho de 44 para 40 horas semanais. Ou será, que essa redução da jornada nos trará ainda mais tarefas domésticas?